Não há nada que possa desandar o sentimento do dia após o dia. A vergonha, a mentira, e a verdade, são caminhos estreitos. Posso até chamar de desilusão, entrecortada pela fúria dessa loucura da vida. Abomino aqueles que se postam como extremamente felizes. Felicidade é uma estrada, cortada por uma ponte, e onde começa outra estrada. Assim caminha a humanidade. Minhas palavras escondidas, podem afastar os otimistas. Irão travar o bom combate, com quem já viveu tudo que tinha de viver. Por vezes, a solidão nos assalta, por ora é uma alegria insensata, e no final de tudo, um escuro terrível. Vivenciei com amigos, Milton, Carlos, as mazelas da vida. De que valeu tudo isso? Para quem não deseja saber, e pouco me importa se o querem.

Sou o escombro dessa desilusão toda. O país vai de mal a pior, a justiça caminha estonteante da terra até Marte, os filhos de Deus, nem se encontram; é religião para lá, é religião pra cá. E no final, cada um procura o pedestal da razão. Sem menoscabo da inteligência de todo mundo, me vejo perdido, e a sensação melhor é que eu me escondo nos subterrâneos desse planeta chamado vida.  Cristina Jardim, o seu otimismo se me eleva, tanto quanto o de me associar minha esposa Sara, se confrontam com a dúvida hiperbólica de René Descartes.

Sou daqueles que se fecharam no próprio tempo, tempo de reflexão, que não consigo mais entender. Resta-me, no final desta noite, após ver a injustiça triunfar, pensar que nada vale a pena. Certeiro, que talvez amanhã eu amanheça, que o dia seja iluminado pelo sol sobre a terra, nada disso, entretanto, sobrepuja a saudade da mamãe, do papai e do meu filho. Estou certo da morte, eis a própria teoria da evolução assim determina, e é inquestionável.

Nem digo mais, amemo-nos, haja visto que tudo é transitório, perfunctoriamente, superficial, tanto quanto eu vivi a vida inteira. Quando menino, imitando Carlos Drummond de Andrade, eu brincava de faroeste, fui Wyatt Earp, Billy the Kid, Bat Masterson, e também fui dono do rancho Chaparral. Era tudo a história falsa. Quando a gente cresce, nem imagina que ser criança foi a melhor coisa da vida.

Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto é um renomado advogado com vinte e cinco anos de atuação na área criminal. Ele adora defender seu semelhante e, além dessa bonita profissão, gosta de escrever crônicas nos momentos de lazer. Ele é casado com a rioesperense Drª Sara Miranda, reside na maravilhosa cidade de Rio Espera e é colunista em nosso portal de notícias.