Colunista - Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto

UM CÃO CHAMADO TOTÓ

Por Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto

10/10/2017

Saibam todos que o Petrarca e dona Olívia, pessoas boas, estão petrificados, convertidos mesmo em pedra pura, imóvel nesse intermúndio, nesse espaço rodeado por uma solidão que os manda orar o tempo todo, não havendo santo que os valha. Vai longe agora o desfastio, o bom humor, o desenfado e toda graça de observá-los juntos; Totó e Lucky. Um não era mais obeso que o outro. Não passeavam juntos que eu saiba. Não eram namorados. Nunca foram namorados.

Que não se faça anedotas e menos ainda afirmações do tipo “a ocasião faz o ladrão”. Pois bem; pelo conhecimento e proximidade da causa passei a interpelar, interpelar qualquer um. Não era furtivo, roubado, furtado, secreto, escondido e menos ainda discreto o relacionamento deles, dois belos cães e pequeninos, criaturinhas de Deus pai todo poderoso. Um era sim mais senil que o outro, mais decrépito também. Essa compressão diminuía o volume da razão de um e do outro. Essa virtude rara de convivência, aquela frequência de trato mútuo eu observava lá da rua de casa, camarote espetacular.

Tacitamente, ainda que não declarado, me vejo obrigado a proferir o enfado, o sentimento desagradável proveniente do desgosto de um deles e do meu desgosto; hoje pela manhã um deles amanheceu sem vida. Sem dar trela, puxar alguém à conversa sobre o fato, posso afirmar que não houve rosas, nem margaridas, nem uma velha carpideira trazendo nas mãos um lenço de qualquer matiz. Ele se libertou definitivamente. Totó morreu, tudo simples assim.

 

Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto é um renomado advogado com vinte e cinco anos de atuação na área criminal. Ele adora defender seu semelhante e, além dessa bonita profissão, gosta de escrever crônicas nos momentos de lazer. Ele é casado com a rioesperense Drª Sara Miranda, reside na maravilhosa cidade de Rio Espera e é colunista em nosso portal de notícias.