Colunista - Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto

TEQUILA E ATHOS O CÃO BOÊMIO

Por Dr. Silvio Lopes de Almeida Neto

04/11/2017

Sebastião Ingracioso de Villa Cortez de Asturia Feliciano. De ascendência mexicana, conhecido na região da Boa Morte e no trabalho da construção civil [ onde era pedreiro, bom pedreiro e gozava de reputação] por Tequila. Vamos chamá-lo assim, por questão de economia ou sei lá por qualquer outra razão. Sabido e consabido que Tequila, na segunda-feira, na terça-feira, quarta-feira e quinta-feira, mandava bem no trabalho. Certo é que não gostava de visitas. Não ia à casa de quem quer que seja, e no seu quarto, sala, cozinha e banheiro lá do lado de fora, gizou, escreveu, sob luz de vela – a energia elétrica fora cortada por falta de pagamento – em um papelão cortado com uma faca cega e velha, o seguinte aviso: Nãu asseitamus visita, favô num insisti”. Entretanto, na sexta-feira, sem jamais ter lido Maquiavel, era todo traição e velhacaria. Pelos fundos, lá por volta das 18:00h, adentrava o botequim do Viana, este um sujeito oleoso e suarento, para espairecer, distrair-se e assestar, apontar sobre a vida dos outros. Falava que o Rabisco era um pederasta inveterado; que o Zé do bigode era um ditoso mentiroso, nunca teve sorte em nada. Lá pelas tantas, chegava o Orozimbo, porteiro de um sobe e desce, barbudo ao extremo, e imediatamente ia sentar-se ao lado do Tequila. Naquela altura, nem um bom Português contando piada sobre brasileiro acalmava o refestelado ascendente de mexicanos. Encetava uma cara mais feia do que já tinha, levantava-se de inopino, metia a mão no bolso, e de dentro de um lenço surrado, retirava pratas de um real, jogava no balcão e sem preguiça se apressava em partir para outro botequim – o da Marmota – onde Athos, um cão boêmio, nascido em Cachoeiro de Itapemirim, sempre lhe esperava com agrados úmidos, em troca de um ovo cozido ou seria um quibe?

 

Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto é um renomado advogado com vinte e cinco anos de atuação na área criminal. Ele adora defender seu semelhante e, além dessa bonita profissão, gosta de escrever crônicas nos momentos de lazer. Ele é casado com a rioesperense Drª Sara Miranda, reside na maravilhosa cidade de Rio Espera e é colunista em nosso portal de notícias.