Eutrópio regressava do trabalho, mendigo. Esgotado e desejoso de sorver, beber lentamente, um, dois, três, quatro goles de aguardente ao valor de setenta e cinco centavos. Fitou, de relance, rapidamente, a abóbada celeste, o firmamento, espaço superior onde se encontram os astros, os anjos e, quem sabe seus demônios, os marraficos que lhe rodeiam nos botequins da vida. Desejou cerrar os olhos, morrer mesmo, antes de mais um passo, sentiu calafrio intenso, um frio da sezão. Sabe-se que viu Betânia, um bacamarte, mulher dissoluta, desregrada, que andava na noite, principalmente gostava da noite. Certo é que para outros, nem mesmo a hebelogia, estudo da adolescência lhe explicava. Todo o ranço, aquele sabor e cheiro acre, toda velharia de sua vida, seriam eternos. Era mesmo um biltre, um ser desprezível, um mendigo de alma. Não tinha mais resiliência, capacidade de superar, de se recuperar das adversidades. Por evidente era acéfalo, um molusco, lhe faltava inteligência das gravatas e dos paletós. Cerra outra vez os olhos e vai procurar os goles de maurá, bebida alcoólica, tão ordinária, comum, vulgar, quanto ele mesmo, na antiga Índia Portuguesa. Assim, que o prefácio, o preâmbulo e os prólogos se façam desnecessários, é a vida dele, a morte dele, a depuração de um analfabeto funcional que não é funcionário público.

Dr. Sílvio Lopes de Almeida Neto é um renomado advogado com vinte e sete anos de atuação na área criminal. Ele adora defender seu semelhante e, além dessa bonita profissão, gosta de escrever crônicas nos momentos de lazer. Ele é casado com a rioesperense Drª Sara Miranda, reside na maravilhosa cidade de Rio Espera e é colunista em nosso portal de notícias.