Congonhas

Mulheres de Congonhas dedicaram um dia ao turismo e a atividade física em Belo Vale

22/10/2019

Alunas e profissionais dos Núcleos de Ginástica da Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Congonhas visitaram Belo Vale no último final de semana para participarem de atividades complementares do programa Congonhas Mais Saudável. Elas fizeram uma caminhada ecológica, de 2,5 quilômetros, da entrada da cidade até a comunidade Boa Morte. Depois visitaram a Fazenda Boa Esperança, que pertenceu ao Barão de Congonhas. Tendo como mão de obra os escravos, a propriedade era polo de abastecimento do Vale do Paraopeba, Ouro Preto e Barbacena nos séculos 18 e 19. Elas puderam conhecer os modos de vida naquela época, detalhes da edificação e percorrerem o pomar. Debaixo de duas árvores gigantescas bicentenárias da espécie sapucaia, fizeram piquenique e aulão de ginástica. O passeio terminou após o almoço no Museu do Escravo, que possui um dos mais importantes acervos com peças referentes a escravatura brasileira. Criado em Congonhas nas dependências da Basilica do Senhor Bom Jesus, pelo Padre, natural de Belo Vale, José Luciano Jacques Penido, em 1977, foi transferido para a Fazenda Boa Esperança em Belo Vale, sendo oficializado como Museu municipal através da Lei nº 504/75 de 10 de abril de 1988. Em 13 de maio do mesmo ano, em comemoração do centenário da abolição da escravatura no Brasil, a instituição foi inaugurada em suas atuais dependência.

Cerca de cem alunas dos núcleos de ginástica estiveram acompanhadas, em Belo Vale, da coordenadora, Lúcia Farinha, e da treinadora, Fernanda Lourenço. Esta diz qual a importância de viagens como esta para estas mulheres. “Através do Congonhas Mais Saudável, as alunas, que eventualmente pudessem conhecer a cidade, puderam dar toda uma ressignificação para os espaços visitados. Este deve ter sido o primeiro grupo que chegou à Fazenda Boa Esperança e dançou debaixo daquelas árvores. Se elas vêm com a família, de repente não visitariam o Museu, talvez fossem só a cachoeira, por exemplo. E passeios como este costumam ser a única alternativa de muitas delas para quebrarem a rotina diária. Eles  também despertam o pensamento crítico nelas, que passam a entender a importância de tirarem um tempo para se próprias. Do ponto de vista cultural, nossas alunas podiam até conhecer pontos turísticos de Belo Vale, mas talvez não soubessem do valor histórico de cada local. Nestas viagens, elas passam a  traçar comparações entre as igrejas locais e as de Congonhas, com relação à beleza do patrimônio histórico, da preservação deles, da atividade turística existente nestas cidades em na sua. Como praticantes de atividade física, mostraram também que estão em forma, resultado da frequência e participação efetiva nas atividades do dia a dia dos núcleos de ginástica. O que tornou o passeio mais prazeroso, apesar de exaustivo. Mas o roteiro foi pensado de forma a contemplar também aquelas que não estejam preparadas para esforço físico mais intenso, como a necessária para a caminhada. As que estão nestas condições, pela idade ou algum problema de saúde, participaram somente do aulão de ginástica e das visitas”, contextualiza.

 

Laís, do Núcleo de Ginástica do Nova Cidade diz que a ginástica está transformando sua vida. “Minha vizinha me convidou a entrar no núcleo do bairro, eu estava desanimada, mas acabei  indo. A prática esportiva traz bem-estar, mais ânimo para as pessoas, minha autoestima está lá no alto, eu era muito triste, chorava muito. Agora o corpo está mais leve. Uma viagem dessas joga a gente ainda mais pra cima, esse passeio vai ficar marcado na minha vida, é a primeira vez que saio sem meus filhos, meu marido, só com minhas amigas da ginástica, foi um presente antecipado pelo meu aniversário, que será comemorado no próximo sábado. Fiquei mais tranquila, esqueci os problemas, se fosse pra ter outro, eu voltava”, garante.

Apaixonada por fotos, Vanessa Luana, do Boa Vista, registrou todos os passos de sua passagem por Belo Vale. Ela é natural de Porteirinha, no Norte de Minas, e está há um ano em Congonhas, tempo que coincide como de sua entrada no núcleo do bairro. “A antes, na minha cidade, fazia Zumba. Acho uma oportunidade muito boa de a gente se cuidar mais, aí me animo para fazer caminhadas. Atividade extra como esta também faz muito bem. Onde passei em Belo Vale algo ficou, do mais simples ao mais elevado, as histórias de sofrimento e a beleza. Tudo é um mistério”, disse em tom poético.

 

Com relação a condição da mulher atualmente, afirmou: “acho que ela está conquistando seu espaço, mas, em alguns aspectos, tem de se cuidar melhor para não se perder. Em comparação ao que sofreu no passado, houve grande evolução. Um exemplo é que agora temos liberdade de expressão”, concluiu.

Nélida Jesus Silva, do Nova Cidade, começou a fazer ginástica na UBS do Primavera, continou na unidade Ideal/Vila Andreza, e, ao retornar ao Nova Cidade, ingressou no núcleo daquela região da cidade. Ela pratica também ioga, fit dance e pedala. “Pratico esporte por prazer. Tomo medicamento e preciso fazer atividade física. Meus pais eram hipertensos e diabéticos, meus irmão também são. Eu não sou, realmente a atividade física faz toda a diferença na vida da pessoa”.

Natural de Belo Horizonte, mas moradora de Congonhas desde os 19 anos, Nélida ouvia falar de como Belo Vale honrava o nome. “A cidade tem muitos atrativos turísticos. Gostei da Fazenda Boa Esperança. Achei lindas as sapucaias. Faltou visitar somente uma cachoeira, trouxe até de biquine (risos)”, comentou.

Maria Rosa Amaro Silva, do Primavera, começou a fazer ginástica mês passado por indicação médica, por ter hosteoporose. “Ela indicou somente ginástica leve. Já estou sentido bem-estar. Gostei  também da viagem, fui poupada da caminhada, mas entrei nas igrejas, na fazenda, eu já morei, quando criança, naquea região dela. A gente acha que sofre hoje, aquilo [o período da escravatura] que era sofrimento”, compara.

De acordo com a coordenadora dos núcleos de ginástica da Secretaria de Esporte e Lazer, Lúcia Farinha, estas atividades complementares visam a provocar, a interação social das alunas entre elas e as pessoas que encontram nos locais visitados. “É a oportunidade de elas apreenderem informações da cultura destas cidades e aproveitarem momentos de lazer. A prática da atividade em grupo fortalece os resultados que buscamos para as nossas alunas, que é se manterem como praticantes de atividade física, independentemente da idade. Muitas de nossas alunas são idosas e exemplo de determinação, de bom humor e disposição. Algumas venceram seus medos e limite e tiveram sua autoestima elevada. Percebemos que a atividade complementar é fundamental pois completa os resultados da ginástica. É prazerosa a troca de experiências, fortalece os laços de amizade e amplia os círculos de convivência. Por isso buscamos mudar os roteiros, desafiar nossas alunas para que sejam cada vez mais participativas, pois é com a frequência que conseguimos melhorar cada vez mais o serviço oferecido em prol da melhor qualidade de vida delas”.

Os núcleos de ginástica deverão se reencontrar no final do ano, provavelmente no Parque Ecológico da Cachoeira.

Belo anfitrião

O município de Belo Vale mostrou que está preparado para receber turistas de todas as partes, por suas belezas naturais, que já se apresentam para o congonhense na descida da serra, pela conservação de seu patrimônio histórico e o calor humano de sua gente. Por onde passaram, as mulheres congonhenses foram muito bem recebidas. A visita à cidade vizinha se tornou mais agradável graças ao apoio oferecido pela Prefeitura de Belo Vale, por meio de sua Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, o Museu do Escravo, e pela Fazenda Boa Esperança.

Mauro Fernandes, aluno do curso de Letras do IFMG Campus Congonhas e estagiário da área de Comunicação da Fazenda Boa Esperança desenvolve ações educativas com visitantes. Ele declamou para as alunas da ginástica a poesia “Vozes e Mulheres”, de Conceição Evaristo, e ofereceu palavras de incentivo a elas para a luta diária.

“Muitas das pessoas que visitam a Fazenda não exploram o contexto histórico presente aqui. Por isso declamei para elas uma poesia, quea trata da emancipação da mulher na sociedade brasileira, partindo de um contraste escravocrata. Instigamos as mulheres a ter um olhar crítico, para que entendam onde estão na sociedade, que, aos poucos, se torna ainda mais machistas, sem que elas, negras ou brancas, muitas vezes, nem tomem consciência desta estigmatização de qual são vítimas. Precisamos promover a educação, a cultura, o esporte e o lazer. Se queremos a mudança, a gente faz a mudança, conscientizando, sociabilizando e incluindo essas pessoas, de forma que elas tenham um olhar mais amplo do mundo e do local onde vivem e compreendam melhor sua realidade”, comentou.

Mauro José Eusébio, supervisor da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer da Prefeitura de Belo Vale e César Augusto de Lima, servidor da mesma Secretaria, auxiliaram a caravana de Congonhas durante a visita àquela cidade. Com a restauração dos bens, o patrimônio de Belo Vale tem recebido a devida valorização. “Além de já contar com o Museu do Escravo, que ganhou sede própria em 1988, Belo Vale, nos últimos dois anos, teve restaurados a Biblioteca Municipal; o Casarão dos Araújos, edificação da década de 1920, que foi a primeira sede da Prefeitura; a Estação Ferroviária; a Fazenda Boa Esperança, que foi recuperada pelo Estado; e  já começou o restauro da Igreja de Santana, que foi a segunda edificada nas Minas Gerais; A de Boa Morte aguarda a restauração dos elementos artísticos, depois de ter a parte arquitetônica recuperada”, detalha o supervisor, que lembra ainda haver um projeto da Prefeitura de propor a criação de um circuito turístico que interligue Brumadinho (Inhotim), Belo Vale e Congonhas.